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Annabelle 3: De volta para casa (2019)

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Os acontecimentos de Annabelle 3: De volta para casa são localizados após o filme Invocação do Mal (2013) e antes de Invocação do Mal 2 (2016), no início dos anos 1970, quando Ed (Patrick Wilson) e Lorraine Warren (Vera Farmiga) se dão conta de que a boneca atrai espíritos ruins e a levam para casa com o objetivo de mantê-la presa por uma barreira sagrada (um armário de vidro benzido por um padre). Annabelle fica trancada a sete chaves em uma sala que reúne todos os itens recolhidos pelo casal de demonólogos nos casos investigados por eles. A boneca é uma espécie de ímã, para demônios e espíritos ruins, sendo assim o artefato mais maligno da sala. Tudo vai bem até que Ed e Lorraine viajam, deixando a filha de dez anos sozinha com a babá e uma amiga dela. Quando a barreira de segurança é violada, Annabelle é libertada e desperta todos os espíritos malignos ali presentes.

Ainda que remeta a Sobrenatural (2010) pelo desfile de diferentes fantasmas e demônios, Annabelle 3 se distancia dele quando a figura da médium experiente (no caso, Lorraine Warren) se afasta e pessoas comuns precisam lidar com aquela situação. Particularmente, é o meu tipo preferido de narrativa. Tenho uma tendência a desgostar de filmes que são dominados pela presença de caças-fantasmas, popularizados em Poltergeist: o fenômeno (1982). Aliás, Vera Farmiga e Patrick Wilson, os grandes atores da franquia, são como uma moldura em Annabelle 3, aparecendo apenas no começo e no final, dando espaço para o elenco jovem (de atrizes competentes e muito cativantes, diga-se de passagem) dominar a ação no restante do filme.

Annabelle 3 brinca com nossas expectativas e surpreende ao escolher um caminho um pouco mais sofisticado até o susto, através de longas cenas de preparação e momentos climáticos, com aparições sutis de fantasmas, sem ruídos estrondosos ou, quando acompanhado de barulho, feito de forma que não ofende o espectador: é o que gosto de chamar de “susto honesto”. Assim como em outros filmes da franquia, tem um agradável clima retrô, mas, talvez por focar em um elenco essencialmente jovem, em Annabelle 3 essa impressão vem ainda mais forte, captando uma certa aura de ingenuidade que parece ter ficado para trás. As canções mantêm o padrão de excelência do universo Invocação do Mal, com clássicos como “These Eyes”, da banda The Guess Who, e “Baby Blue”, do Badfinger. O filme recorre a elementos muito clássicos e clichês que ora funcionam bem e ora nem tanto, mas que também não atrapalham. Os momentos de humor, ao contrário de A freira (2018) e A maldição da Chorona (2019), funcionam muito bem, também como a sua parcela de drama. Ou seja, é provável que você se assuste, ria um bocado e que talvez até verta algumas lágrimas assistindo a Annabelle 3.

Diferente da maioria dos filmes de bonecos, como em Bonecas macabras (1987) e Brinquedo assassino (1988) Annabelle não age por conta própria e este filme tenta lhe dar uma importância maior do que ela de fato tem, sem sucesso, mas isso é apenas um detalhe, pois os outros “monstros” fazem bonito em cena. O longa-metragem é a estreia de Gary Dauberman, talentoso roteirista e autor dos dois filmes anteriores da franquia, na direção. Se continuar por este caminho, é provável que tenhamos por vir outros exemplares deste nível, com o mesmo espírito simples e divertido.

Pesquisadora, crítica, curadora e realizadora cearense radicada em São Paulo, escreve regularmente sobre filmes para livros, encartes de homevideo e catálogos de mostras, além de integrar curadorias e júris de festivais pelo país. Doutoranda em Comunicação Audiovisual (UAM-SP) com pesquisa sobre filmes de horror brasileiros feito por mulheres, ministra palestras e cursos livres sobre cinema. Atualmente, realiza dourado-sanduíche como pesquisadora convidada na Universidade de Sorbonne (Paris). Mantém a revista eletrônica Les Diaboliques, com foco em filmes de horror.

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